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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O que empresas brasileiras aprenderam com a crise


Mercado apostou que turbulência econômica global representaria oportunidade de negócio para as empresas nacionais; veja como elas saíram

Para alguns empresários parece que foi ontem, já para outros é como se tudo tivesse ocorrido há uma década. O fato é que a "crise econômica de 2008" chega às vésperas de completar um ano apresentando sinais de fraquezas e ensaiando uma recuperação antes do previsto. Muitos analistas apostam que, quando tudo se acalmar de vez, o Brasil emergirá fortalecido no cenário internacional e os provedores de tecnologia da informação com atuação no mercado externo pegarão o mesmo barco.

Entre altos e baixos, a indústria brasileira de TI contabilizou, no período, importantes aprendizados. "Bons momentos nivelam; já as crises, diferenciam as empresas", reflete Marco Stefanini, que nos anos 80 largou uma provável carreira de geólogo para ingressar no departamento de tecnologia de um banco. Na época, o executivo acabava de se formar na Universidade de São Paulo (USP) e, por falta de emprego na área que escolhera, entrou no setor de informática. Na filosofia do presidente da integradora Stefanini, cujo faturamento anual previsto para 2009 está na casa dos R$ 800 milhões, as turbulências econômicas transferem para o mundo corporativo o conceito de "seleção natural" criado por Charles Darwin onde apenas os mais aptos sobrevivem.

Pós-globalização não há mais países ou setores isolados. Sabendo disto, as empresas de TI nacionais, há algum tempo, articulam iniciativas para posicionarem-se. Um evento teoricamente isolado (como foi o caso do subprime) refletiu na crise de crédito que levou alguns bancos à falência, o que impactou nos orçamentos de tecnologia das companhias - primeiro nos Estados Unidos, depois ao redor do mundo. E isto afeta diretamente as empresas brasileiras, independente de seu porte.

A Stefanini, que possui operação em países como México e Estados Unidos, percebeu um mercado em retração. As margens caíram e os negócios ficaram mais voláteis a partir do terceiro trimestre de 2008. Em meio a esta tempestade, a companhia adiou por algum tempo os planos de adquirir uma empresa fora do Brasil, ajustou a operação interna formatando novas ofertas de produtos e serviços e canalizou esforços para geografias com economias emergentes e setores que viessem compensar eventuais perdas.

A chacoalhada na economia praticamente obrigou as empresas nacionais (assim como as internacionais) a ajustar o plano em pleno voo. Quando percebeu desaquecimento em projetos de implantação de sistemas, a Politec viu que poderia obter receitas na oferta de fábrica de software e business process outsourcing (BPO). Além disso, a provedora compensou na vertical de governo a freada nas compras vista no corporativo. "Tirar proveito da crise é exagerado. Perdeu-se um lado e ganhou-se outro", analisa Edenilson Fleischmann, vice-presidente executivo da integradora.

O mercado aquecido possibilitava que os provedores de tecnologia mantivessem equipes maiores. A turbulência mudou isso, trazendo a cultura do "mais por menos" para manter a rentabilidade dos projetos. "Fizemos uma reestruturação interna para deixar a empresa o mais eficiente possível", diz Fleischmann, que completa: "Não esperávamos o pior, mas não dava para ficar sentando vendo o que iria acontecer". Em meio a perspectivas mais conservadoras, a Politec mudou o comando de sua operação nos Estados Unidos e ampliou presença na Argentina, Chile e Japão. Além disto, utilizou o aporte recebido da Mitsubishi no início de 2008 para adquirir empresas em São Paulo e no Distrito Federal.

"Devemos aprender que toda crise configura-se em um momento de rever o negócio como um todo, independente do grau que cada empresa foi afetada", comenta Jorge Sukarie, presidente do conselho da Abes (Associação Brasileira das Empresas de Software), ressaltando a existência de companhias que aproveitaram o período para ajustar sua estrutura, olhando para dentro de casa a fim de colocar o negócio nos eixos. Pelas contas da entidade, em 2008, existem cerca de 8,5 mil provedoras de software e serviço em operação no Brasil sendo que, deste total, quase 95% enquadra-se na categoria de pequenas e médias.

Na edição 2009 do relatório sobre o panorama do setor de software e serviço brasileiro, a entidade reforçou que o País continua a ocupar a 12ª posição no cenário mundial no nicho do mercado de TI, movimentando US$ 15,01 bilhões, dentro de um mercado nacional de tecnologia avaliado em US$ 29,3 bilhões. Pelas contas da Abes, o Brasil exportou US$ 340 milhões em licenças e serviço.

O volume transacionado pelas empresas nacionais no exterior medido pela Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação) é um pouco diferente. Segundo Antonio Carlos Rego Gil, presidente da entidade, este modelo de negócio significou US$ 1,4 bilhão - quantia que, segundo o porta-voz, deve ser revista para US$ 2,2 bilhões, o que colocaria o País na quinta posição no cenário global. "Nem todo mundo declara o que exportou", comenta o executivo.

Em abril, a Brasscom divulgou uma carta endereçada ao G20 manifestando temor que alguns países pudessem barrar o livre comércio de serviços de tecnologia em função da crise econômica global. A iniciativa acompanha o interesse da entidade em impulsionar as empresas nacionais como provedores globais, destacando o Brasil como ponto interessante de nearshore devido à proximidade com os Estados Unidos.

Não foi agora

No deflagrar da crise, muitos analistas e especialistas alarmaram as oportunidades de negócio que o momento poderia proporcionar. O aspecto tomou conta do discurso como se fosse a coisa mais natural que os provedores nacionais virassem alternativas óbvias para os contratos que seriam fechados em mercados mais maduros em termos de tecnologia. Afinal, as companhias nacionais trazem inegável qualidade a um preço mais atrativo, principalmente, se considerarmos que o dólar se valorizou bastante no fim de 2008 e nos primeiros meses de 2009.

Contudo, na mesma proporção que abriu portas, a oscilação da moeda norte-americana provocou uma espécie de corrida para renegociação dos contratos em vigor. "Apesar de participarmos de mais concorrência, não conseguimos fechar aquelas ‘grandes" transações", analisa Benjamin Quadros, presidente da BRQ, integradora que tem entre 10% e 15% de suas receitas atreladas ao mercado externo.

A previsão era de crescimento intenso das operações internacionais até o estourar da bolha do subprime, que equilibrou as perspectivas para este ano aos números atingidos em 2008. O item preço passou a ter grande peso na hora de fechar um projeto. O executivo cita que, neste cenário, o custo unitário por programador chega a ser 40% mais barato na Índia em comparação com o Brasil.

Mas não é só isso, os entrevistados apontam para uma questão que retorna à pauta constantemente: os gargalos travam o avanço do setor nacional de tecnologia. Problemas de infraestrutura, falta de mão-de-obra qualificada, custo Brasil e tributação inadequada são apenas alguns itens mencionados pelos executivos ouvidos pela reportagem. Além disto, a indústria nacional de TI carece de conceitos mais sólidos de negócio e maturidade para consolidar-se entre os "Top 5" do mundo.

São questões como essas que fazem Sukarie, da Abes, definir que temos alguns problemas crônicos. Entretanto, mesmo com tudo isto "jogando contra", a Brasscom calcula que as receitas de exportações devem evoluir em dois dígitos sobre os valores do ano passado. Mas Gil bate na tecla um tanto incômoda para os empresários: mesmo faturando mais, a lucratividade será menor.

Todavia, mais forte

Na visão dos executivos nacionais, o setor de tecnologia como um todo deve sair fortalecido quando crise acabar. "Com base nas informações que temos de nossos associados, observamos as empresas aproveitando oportunidades de consolidação e expansão, o que mostra que as companhias brasileiras se preparam para se fortalecerem na crise", comenta Sukarie, da Abes, citando ainda evoluções significativas no quesito ‘governança" por parte das companhias nacionais.

José Rogério Luiz, vice-presidente-executivo e financeiro da Totvs, enxerga ações orquestradas para melhorar a imagem e fortalecer o setor de tecnologia no âmbito internacional. O executivo destaca a constância do trabalho conduzido e seus impactos positivos no longo prazo. "Mesmo que a velocidade seja inferior ao que as pessoas imaginam, o processo segue de forma gradual", conta. A linearidade e sequência das ações podem significar o sucesso ou fracasso de tudo que foi feito até aqui. "A história, em algum momento, vai permitir que ocupemos um vagão mais na frente do bonde dos acontecimentos".

Ainda é impossível afirmar quando a crise global terá fim. Não há quem diga que já enxerga a famigerada "luz no fim do túnel". Mas, já dá para perceber retomada de negócios, seja em virtude da adaptação promovida pelas empresas ao longo dos últimos meses ou por uma autêntica retomada da economia. "2010 deve começar como um ano melhor, mas não veremos uma retomada brusca", projeta Marco Stefanini. O executivo acredita que, enquanto algumas companhias sairão bastante fortalecidas, outras ficarão debilitadas por conta da turbulência. "No todo, a TI brasileira sairá da crise melhor do que entrou", finaliza.


Por Felipe Dreher | InformationWeek Brasil

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