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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

IT Forum MB: Brasil vive um paradoxo em inovação


Professor da FDC identifica que o Estado quer manter-se como o grande empreendedor, enquanto o movimento deveria crescer na sociedade

O Brasil tem um grande potencial de inovação e precisa explorá-lo. Não visão do professor da Fundação Dom Cabral (FDC) Fernando Dolabela as empresas nacionais devem acordar e dar mais ênfase ao estímulo de ideias criativas para não perderem o bonde da história. "Enquanto centro inovador, o Brasil ainda está atrás de países menos expressivos", avalia. Antes de sua palestra, que abriu a primeira edição do IT Forum MB, o especialista conversou com o IT Web e apresentou uma visão critica e, ao mesmo tempo otimista, sobre o tema. Confira:

IT Web - Como está a cultura empreendedora dentro das companhias brasileiras?

Fernando Dolabela - As empresas nacionais começam a perceber a importância de inovar por meio do empreendedor interno. A inovação é entendida dentro de um conceito de dinheiro novo, esta forma só se verifica quando você consegue produzir bens ou serviços que produzam receitas que não existiam antes. As companhias estão sendo intimadas a criar e muitas estão se preparando para isso.

IT Web - O que ocorria até então nas empresas para compararmos com o cenário de hoje?

Dolabela - Historicamente, o Brasil não era pressionado por uma concorrência aberta em muitos setores, principalmente, em se falarmos de indústrias que tinham mercado protegido por reservas e subsídios. Isso fez com que não desenvolvêssemos a capacidade de inovar. Com raras e nobres exceções, o País não tem em sua história a prática de inovação. Somos muito vinculados ao passado e, desde os tempos da colônia, nunca produzimos o novo como uma proposta cultural. É inovação é cultura.

No século passado, as grandes inovações também vinham de fora, da matriz, da multinacional. É lógico que temos exceções boas no governo, como a Embrapa, e fora dele, como a Embraer. Mas, enquanto centro inovador, o Brasil ainda está atrás de países menos expressivos.

Um exemplo é que 80% de nossos doutores e PhDs estão na universidades e apenas 20% nas indústrias. Em economias mais avançadas, esta proporção é inversa. Além disso, a quantidade de patentes registradas por aqui é decrescente. Quer dizer: aquele conhecimento que gerou um novo produto ou serviço, indicador importante de inovação é muito inferior a outros países emergentes.

IT Web - Então, estamos regredindo no quesito inovação?

Dolabela - Não. Esses números não são muito favoráveis, mas sentimos que o Brasil tem um movimento e há uma preocupação no assunto. A palavra inovação está presente. Nós temos muita criatividade em alguns setores, como a área de informática e biotecnologia. Só que temos de despertar este gigante para a inovação.

IT Web - Você enxerga um movimento para mudança deste cenário, colocando inovação na cultura nacional?

Dolabela - Vivemos em um paradoxo. O Brasil tem uma incrível capacidade de inovar, criatividade e empreendedorismo. A mudança tende a acontecer inevitavelmente. Mas as sinalizações que vem dos que estão no poder não são inovadoras. Há um movimento considerável para manter o Estado como o grande empreendedor. Isso se contrapõe de forma muito séria à inovação da sociedade. As pessoas inovam não simplesmente porque sabem. Têm muitos que sabem muito e não criam nada novo. As pessoas inovam porque têm uma cultura, um hábito e uma forma de ver o mundo que lhes permite isso. Recebendo mensagens dos nossos governantes de que quem inova é o Estado continuamos uma sociedade dependente. Isso é muito ruim como sinalização cultural.

IT Web - O cenário futuro não é dos mais otimistas, pelo que percebo.

Dolabela - Se não acordarmos logo e percebermos que Estado tem uma função importante como regulador da economia, no estabelecimento de relações favoráveis aos empreendedores e se não entendermos que o único setor que tem competência para empreender é a sociedade civil; estaremos com problema, sim. Eu, particularmente, vejo algumas nuvens cinzentas que impedem nosso desenvolvimento acelerado. O Brasil tem tudo para se tornar uma potência e isso não é uma falácia. Nós temos é que nos livrar de algumas amarras.

IT Web - Que amarras são essas?

Dolabela - Por exemplo, a nossa classe acadêmica não está preparada para transformar conhecimento em riqueza. Eu coordeno concursos nacionais de plano de negócio produzidos por professores, doutores, mestres e estudantes de áreas de alta tecnologia e, nesse ponto, nosso potencial é pouquíssimo explorado. Ou seja, temos muito que caminhar para que haja a mentalidade de transformar conhecimento acadêmico em bens e produtos. Esse é um indicador muito forte. Ainda do lado negativo, nossos jovens, cada vez mais, querem se preparar para passar em concursos públicos. Os lados positivos são muitos também. A força do Brasil e a capacidade do País movem nossa economia em uma direção que aponta para um potencial positivo. Mas, como disse anteriormente, se tivéssemos o caminho liberado, avançaríamos com muito mais velocidade.

O que quero dizer é que não estamos mal, mas poderíamos estar muito melhor com uma economia mais dinâmica. Veja bem, os recursos de crédito são voltados principalmente para empresas de grande porte e isso é um indicador sério. Se não há dinheiro oferecido para o empreendedor emergente, não se consegue a renovação da economia. Aqui acontece isso. Tem muita grana e tendências de investimento para companhias maiores. Um país, para se desenvolver, ser sustentável e ocupar uma posição forte no cenário global, tem que inserir o empreendedorismo na base da população, preparando as pessoas para isso.

IT Web - E como despertar esse empreendedor dentro da companhia e não fazer com que uma ideia inovadora caia naqueles elevados índices de mortalidade empresarial brasileira?

Dolabela - As empresas também, de uma forma geral, não aproveitam todo o seu potencial. Muitas ideias são abandonadas por vários motivos. Por não estarem de acordo com o core business, por exigirem um investimento específico... simplesmente não são aproveitas. Se as companhias estimulam a capacidade de inovação de seus empregados, podem induzi-los a serem empreendedores, por meio de processos de spin off, por exemplo.

Em uma companhia dinâmica, os funcionários que tiverem boas ideias, a empresa mãe acaba sendo sua sócia, dando a ele caminhos mais seguros, pois terá várias facilidades compartilhadas com a empresa mãe. Esse processo gera empresas mais sólidas. Essa é uma face dos empreendedores internos, que são indispensáveis, pois toda organização precisa inovar.

IT Web - Como um líder pode estimular a equipe para que isso ocorra?

Dolabela - No empreendedorismo e nas empresas, o líder é uma figura capaz de conceber o futuro, criando condições para que um novo produto ou serviço ocupe um lugar no mercado. É alguém que tem essa idéia, mas não se restringe apenas a isso. Ele fundamentou seu projeto de tal forma que consegue seduzis pessoas, sendo capaz de convencer seu colega, seu diretor, seu presidente, órgãos que financiam novos investimentos, clientes... essa é a liderança necessária.


Por Felipe Dreher | TI Web

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